domingo, 29 de março de 2009

A flor no deserto

Eis a flor, bela, misteriosa, envolvente;
Avisto à distância, e imagino sua beleza, textura, cores, forma, genética...
Sobrevive a aridez e solidão deste deserto, silencioso, infinito e mortal ainda que admirável.
Estou só; cansado, sedento, numa busca desesperada por companhia e vejo-te tão solicita quanto eu, solitária e semelhante em aparência que me sinto em êxtase enquanto aproximo-me.
Contemplo-te a cada passo, atento-me ao redor e enquanto certifico-me que és minha e que estamos a sós; apodero-me de ti e despejo todo meu egoísmo em tu’alma, não percebo que sorrateiramente desejas meu mal, sou vulnerável a ti enquanto em sua sutileza planejas o meu fim e com requintes de crueldade premeditas ardilosamente minha morte.
És má, enquanto eu, ingênuo e carente humilho-me prostrando-me a ti para cuidadosamente aspirar teu aroma e apreciar de perto tua beleza, que efêmera fascinou-me e cego aspiro teu pólen que invade minhas narinas, pulmões e circula agora em meu sangue até possuir meu cérebro trazendo-me sensações nunca antes sentidas em meu corpo que já não controlo.
Movimentos desordenados, calafrios, suor, vertigem, alucinações, minha respiração ofegante tenta deter meu coração que pulsa cada vez mais violento num ritmo enlouquecido, tento me convencer de delírio, talvez esteja entorpecido por uma droga natural, mas, ao sentir meu corpo dormente, e constatar que meus batimentos cardíacos desaceleram cada vez mais buscando uma parada, um fim, e enquanto sinto frio em pleno deserto a tarde, então num ultimo raciocínio lógico apercebo-me que estou morrendo.
Aceito enfim então, que tenha encontrado finalmente, bela, solitária e em paz a morte, numa bela tarde de céu azul e calmo, na contemplação de uma singela e tão rara flor, pequena, delicada e de aveludado branco.
A maldita flor venenosa do deserto.